O Pantanal abriga mais de 1,2 mil espécies de animais. Confira alguns exemplos e a explicação de alguns especialistas sobre essas mudanças biológicas e químicas.
Albinismo, hibridismo e melanismo, são algumas das alterações genéticas presentes em animais símbolos do Pantanal de Mato grosso do Sul que os tornam especiais. O bioma abriga mais de 1,2 mil espécies de animais, segundo estudiosos.
Ainda neste mês de julho, no município de Sonora, uma onça-preta e outra onça-pintada foram vistas juntas em uma estrada e, levantou debate nas redes sociais devido as cores.
De acordo com o veterinário Marcelo Mathias, a pelagem escura é consequência de uma mutação genética. A reportagem trouxe alguns exemplos e especialistas para explicarem sobre essas mudanças biológicas e químicas.
Albinismo
O albinismo é uma condição genética caracterizada pela ausência total ou parcial da tirosinase, que faz parte da síntese da melanina – proteína que dá cor à pele, pelos, cabelos e olhos e funciona também como uma proteção dos raios ultravioleta. De caráter recessivo, ela pode ser passada de geração a geração.
Em Miranda, um veado-campeiro albino se tornou uma “entidade” para o biólogo Bruno Sartori, que trabalha em uma Organização Não Governamental, voltada para a conservação. Com a pelagem totalmente branca, o focinho, ao redor dos olhos e orelhas são rosas e os olhos possuem uma mistura de azul e verde, uma combinação única.
“Foi um momento realmente especial, provavelmente o registro mais raro que eu já fiz na minha vida, de um animal aqui no Pantanal”, afirma o biólogo.
Sartori explica que a aparição deste animal leva os pesquisadores a monitorarem para acompanhar o desenvolvimento da espécie na natureza.
“Tem uma combinação muito única, para isso efetivamente se manifestar. O que faz esse veado que tem aqui na Caiman, tão especial, é porque ele é o primeiro registro do veado-campeiro completamente albino. Já existiam outros relatos de alguns animais que tinham manchas brancas pelo corpo, que tinham ali esse gene aparecendo, mas os olhos mantinham coloração. Mas esse aqui é efetivamente o primeiro registrado com albinismo completo”, diz Sartori.
Outro caso no cerrado, é de um tamanduá nomeado de Alvinho, monitorado por pesquisadores do Projeto Bandeiras em Rodovias do ICAS, em uma fazenda no distrito de Arapuá, a 300 quilômetros de Campo Grande.
Alvinho está em crescimento e é monitorado através de um colete. Os pesquisadores do Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS) afirmam que o tamanduá tem o mesmo comportamento de outros da mesma espécie, como dormir embaixo de uma sombra nos períodos quentes.
Em 2021, outro tamanduá albino apareceu na mesma fazenda, porém, foi encontrado morto. A hipótese dos pesquisadores é que a morte ocorreu por predação.
Elias Menossi de Lima, funcionário da fazenda, conta como foi a sensação de ver esses animais geneticamente diferentes. “A sensação de ver um animal diferente na natureza, é gostoso saber que é um bicho raro e tivemos muita sorte”.
Além da observação, Mário Alves, médico-veterinário do ICAS explica que o instituto coleta amostras biológicas da pele, pelos e sangue para acompanhar a saúde e a genética do animal. Mário também afirma que o tamanduá tem grande probabilidade de ser irmão do anterior.
Hibridismo
O Hibridismo acontece pelo cruzamento entre duas espécies diferentes, que na escala evolutiva, possuem características semelhantes.
A bióloga Neiva Guedes foi quem registrou a primeira híbrida de Campo Grande, em 2002, resultado do cruzamento entre as duas famílias de araras.
Com a cor alaranjada no peito, com misturas de arara-vermelha e canindé, o Instituto Arara Azul, em 2014, acompanhou um casal de araras híbridas e o nascimento de um filhote, que teve sucesso no seu voo. A partir desse episódio, o centro começou a monitorar os ninhos.
Em 2023, o instituto monitorou 3 ninhos com a presença de araras híbridas e, apenas um deles tiveram um filhote que sobreviveu. Larissa Tinoco, coordenadora de campo do Projeto Aves Urbanas, explica que o hibridismo é comum em cativeiro há quase um século pela intervenção humana e raramente de forma natural.
“Uma arara híbrida não é considerada uma nova espécie, porque no processo evolutivo, isso levaria milhares de anos e no processo, os indivíduos precisam cruzar entre si e gerar descendentes saudáveis e férteis, isso em várias gerações, o que não acontece com o hibridismo. Isso é uma forma de gerar novas espécies, mas que vai levar milhares de anos para acontecer”, conta Tinoco.
Melanismo
Melanismo, é responsável pela produção excessiva da melanina.
No estado, há registros de uma gato-palheiro melânico, no Parque Estadual Várzeas do Rio Ivinhema. Segundo o biólogo Eduardo Fragoso, o melanismo ocorre com várias espécies e grupos do reino animal, como aves, anfíbios, répteis e mais comumente em mamíferos, principalmente nos felinos.
No Parque Nacional Grande Sertão Veredas, mais de 40% das onças-pintadas possuem melanismo. Uma delas, Guirigó, foi a primeira da espécie capturada pelo projeto Onçafari e conta com o monitoramento do biólogo. Cerca de 9% das onças-pintadas do continente americano possuem o melanismo, que as tornam totalmente pretas. “Não existe até hoje nenhum estudo científico que mostre que o meio ambiente seja prejudicado pela presença das onças-pretas e nem mesmo que o melanismo prejudique essa espécie”, diz Fragoso.
“A gente fez o estudo tanto em forma de câmeras fotográficas quanto com colares GPS. Fazemos a captura, contenção desses animais, anestesiamos, coletamos várias amostras de sangue e de pelo para vários estudos científicos e nos interessa muito entender se existem diferenças entre essas duas formas de onças-pintadas”, explica o biólogo.