Células NK uterinas e fertilidade: como o sistema imunológico pode afetar a implantação embrionária

Aleksandr Boris
Aleksandr Boris
Oluwatosin Tolulope Ajidahun analisa o papel das células NK uterinas no sucesso da implantação embrionária.

Segundo Oluwatosin Tolulope Ajidahun, a fertilidade humana envolve muito mais do que hormônios, ovulação ou qualidade dos embriões. Um dos fatores mais complexos e ainda pouco conhecidos pelo público geral é o papel do sistema imunológico na receptividade uterina, e, nesse cenário, as células NK (natural killers) ganham destaque. Presentes em grande quantidade no endométrio, essas células têm funções específicas durante a janela de implantação embrionária.

As células NK uterinas são diferentes das encontradas no restante do organismo. Ao contrário do que o nome sugere, elas não atacam embriões, mas atuam na modulação do ambiente uterino, regulando a vascularização e facilitando a fixação do embrião na parede do útero. Entretanto, quando sua atividade está aumentada ou desregulada, podem contribuir para falhas de implantação e até abortamentos recorrentes.

Entenda o delicado equilíbrio entre proteção e rejeição

Percebe-se que, durante a implantação embrionária, o sistema imunológico precisa reconhecer o embrião, que tem carga genética parcialmente paterna, como algo “estranho”, mas não o suficiente para rejeitá-lo. Essa tolerância imunológica é essencial para que a gestação tenha início. De acordo com Tosyn Lopes, quando as células NK uterinas apresentam uma atividade citotóxica excessiva, esse equilíbrio se rompe, gerando um ambiente hostil à implantação.

Resposta imunológica equilibrada é essencial — como reforça Oluwatosin Tolulope Ajidahun em casos de infertilidade.
Resposta imunológica equilibrada é essencial — como reforça Oluwatosin Tolulope Ajidahun em casos de infertilidade.

Estudos mostram que a atividade desregulada dessas células pode estar associada a infertilidade inexplicada, falhas repetidas em tratamentos de fertilização in vitro (FIV) e perdas gestacionais precoces. Ainda que a presença de células NK seja fisiológica, seu número e comportamento devem ser cuidadosamente avaliados em casos suspeitos.

Diagnóstico e abordagens clínicas

A investigação da atividade das células NK pode ser feita por meio de exames específicos, como biópsia endometrial com imunohistoquímica ou testes laboratoriais de citotoxicidade. Essas análises são indicadas principalmente em pacientes com histórico de repetidas falhas de implantação ou abortos espontâneos sem causa identificada. Oluwatosin Tolulope Ajidahun comenta que, nesses casos, a avaliação imunológica pode trazer respostas relevantes e orientar condutas terapêuticas individualizadas.

Existem diferentes estratégias para modular a atividade das células NK no útero. Entre elas, destacam-se o uso de corticosteroides, imunoglobulina intravenosa (IVIg), heparina de baixo peso molecular e, em alguns casos, medicamentos imunossupressores. Cada tratamento deve ser cuidadosamente prescrito por especialistas, considerando os riscos e benefícios para a paciente.

A imunologia reprodutiva como aliada na medicina personalizada

A abordagem imunológica da fertilidade representa um avanço importante na medicina reprodutiva moderna. Ela amplia o entendimento sobre as causas multifatoriais da infertilidade e reforça a necessidade de olhar para além dos parâmetros clássicos. Conforme aponta Tosyn Lopes, a integração entre endocrinologia, embriologia e imunologia oferece novas possibilidades terapêuticas, especialmente para mulheres que já passaram por diversas tentativas sem sucesso.

Embora ainda não haja consenso científico sobre todos os marcadores e tratamentos imunológicos, muitos especialistas reconhecem o potencial da imunomodulação como ferramenta complementar. Em centros de reprodução avançados, os protocolos personalizados já consideram o papel do sistema imune em casos mais complexos, com resultados promissores.

O invisível que importa: o útero como centro de acolhimento imunológico

A fertilidade não depende apenas de um bom embrião ou de um ciclo ovulatório regular. Oluwatosin Tolulope Ajidahun elucida que, para que a gravidez aconteça, o útero precisa funcionar como um “órgão de acolhimento”, equilibrando defesa e receptividade. Células NK uterinas fazem parte desse sistema refinado, atuando em silêncio, mas com grande impacto sobre o início da gestação.

Desse modo, entender sua influência permite não apenas tratar, mas também prevenir insucessos reprodutivos. O futuro da medicina reprodutiva passa por reconhecer a complexidade dos processos biológicos envolvidos, e dar espaço ao que, por muito tempo, foi invisível na prática clínica.

Autor: Aleksandr Boris

As imagens divulgadas neste post foram fornecidas por Oluwatosin Tolulope Ajidahun, sendo este responsável legal pela autorização de uso da imagem de todas as pessoas nelas retratadas.

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